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Um fio de esperança no Natal

Previsões mais animadoras indicam que vendas este ano podem crescer 3%, abaixo de 2019

Aldo Gonçalves

O Natal é sempre uma esperança de vendas melhores. Em tempos normais, elas correspondem a 30% do faturamento anual do comércio. Pode-se dizer que as três últimas semanas do “ano velho” garantem o fôlego do setor para enfrentar os três primeiros meses do ano novo, período de pesados custos fixos do consumidor, como os impostos, as matrículas e o material escolar.

As previsões mais animadoras indicam que as vendas deste Natal podem crescer 3%, menor do que a do ano passado — preocupante quando se considera o cenário econômico e os efeitos arrasadores da pandemia. É bom recordar que o comércio esteve fechado durante três meses.

Otimista por natureza — e não poderia ser diferente —, o comerciante continua fazendo a sua parte. Planejou e se organizou. Comprou tecnicamente produtos desejados com preço e quantidades adequadas. Investiu no treinamento da equipe para vender mais e conquistar novos clientes. Além disso, vem realizando todo tipo de promoção, liquidação e descontos para estimular as vendas.

Mas, o comerciante sabe que, apesar de todas essas ações, se as vendas igualarem o patamar do ano passado, deverá comemorá-las como vitória conquistada pela persistência de um setor que não quer e não pode esmorecer. O comércio quer e precisa crescer. Insiste em dar emprego e gerar renda, apesar do quadro caótico que o Estado do Rio  atravessa, que inviabiliza investimentos e trata tão mal os setores produtivos, notadamente o comércio e os serviços. Exemplo disso são as centenas de estabelecimentos que fecharam as portas, principalmente no Centro do Rio, relegado ao abandono como se fosse terra de ninguém.

Não custa lembrar que o Natal já foi comemorado como o do presente farto. Depois, veio o tempo das lembrancinhas e dos presentinhos. Agora é o Natal da esperança, apesar dos efeitos da pandemia da Covid-19 e do desemprego — assustador conjunto de fatores negativos que corrói o salário e diminui dramaticamente o poder de compra. Lembremos, também, que este ano todas as datas comemorativas, que geralmente favorecem o comércio, não atingiram o movimento esperado.

Dentro deste cenário, o ano que está terminando sob o signo da incerteza não será de boas lembranças para ninguém. Todos têm sofrido as consequências da pandemia e a falta de perspectivas no front político estadual e na economia a curto e médio prazos.

Neste quadro, o Rio de Janeiro se destaca, infelizmente, como um dos estados mais atingidos. Para evitar os solavancos e neutralizar os sustos de uma economia fortemente atrelada a um único campo produtivo (a indústria do petróleo e gás), é preciso investir em outras áreas igualmente capazes de gerar emprego e renda capazes de sustentar o desenvolvimento, como é o caso do comércio. Estes são os setores aos quais urge prover condições para enfrentar a face amarga da economia e os desafios de um mercado que não perdoa a incompetência, mas premia a eficácia. Não basta lamentar a pandemia e os males causados. É preciso construir um Natal de esperança.

Aldo Gonçalves é presidente do Clube de Diretores Lojistas do Rio de Janeiro, do Sindicato dos Lojistas do Comércio do Município do Rio de Janeiro e diretor da Confederação Nacional do Comércio

Publicado no Jornal O Globo em 26/11/2020