O trabalho a distância não é novidade. Ao longo da história, as relações, também, estiveram sujeitas ao vínculo remoto, estimulando a tecnologia a aproximar pessoas via rádio, telefone, pagers, e-mail, aplicativos de celular e chamadas de vídeo.
Então, no contexto emocional, o teletrabalho sempre teve efeitos no bem-estar. Antes, menos, por conta da menor velocidade das informações, das interações não trazerem a imagem e das pessoas reunirem-se na empresa. Hoje, as informações são praticamente instantâneas e as reuniões são mais virtuais, o que abre espaço a outras percepções de linguagem, expondo os colaboradores a um tipo diferente de estresse: estar presente, porém virtualmente, e com respostas mais rápidas.
Os colaboradores, também, estão se percebendo quase que estritamente pela linguagem verbal. Muito da linguagem não-verbal foi prejudicada. Dada a menor convivência presencial, a compreensão é fragilizada quanto ao feedback de conduta e dos movimentos dos outros, sem contar a perda do benefício emocional das conversas informais no trabalho.
Adiciona-se a isso a interação por vídeo, em home office, na qual ocorre a exposição do ambiente pessoal competindo com questões profissionais. Surge a “jornada em paralelo”, onde o indivíduo divide sua atenção entre tarefas de casa e do trabalho, sem que sua intimidade seja preservada.
Diante dessas novas ameaças, mais pessoas estão apresentando transtornos de ansiedade e depressão, e síndromes como a de Burnout e de isolamento, aumentando a perda de interesse e a frustração profissional. Um dos componentes que está ajudando nesse processo nocivo é o tempo de ir e vir para o trabalho, hoje incorporado às horas trabalhadas. A prontidão é, portanto, maior e mais intensa.
Por último, falando em instrumentalidade (os equipamentos e processos que a empresa fornece aos funcionários e a capacidade de aprendizado que eles adquirem na convivência corporativa), notam-se novas insatisfações. As pessoas custeiam os equipamentos que usam para trabalhar e ficam ligadas a processos mais truncados – fruto de maior volume de tarefas – e sujeitas a mais erros.
As empresas, portanto, precisam investir mais em treinamentos remotos que considerem as questões emocionais de seus funcionários, mantendo controles de aproveitamento, mensuração de resultados e, ato contínuo, aumento do valor percebido para seus clientes.
É preciso, mais do que nunca, revisar a forma como os modelos mentais, nas relações profissionais entre empresa, colaboradores e clientes, tem se manifestado, a bem de promover diferenciais competitivos no mercado.
A tecnologia nas empresas deve avançar dialogando com a humanidade, considerando a performance emocional das pessoas. O conceito de felicidade corporativa já é uma realidade!
Por Oscar Pestana, psicanalista do Instituto Noese.