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Um novo ano ainda sob o signo da incerteza

Faltando pouco para o fim do ano, apesar do (moderado) otimismo do comércio em relação às vendas do período de Natal, o ano de 2022 chegará sob o signo da incerteza, marcado pelo desemprego e inflação altos, pela queda de renda, pelo desequilíbrio fiscal das contas públicas e pela disputa eleitoral em todo o País.

Uma pesquisa do IBGE, com dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio), divulgada em 30 de novembro passado, revelou que o Rio de Janeiro apresenta a pior taxa de desemprego da Região Sudeste e a maior queda de renda no país. Embora a taxa de desocupação tenha caído 2% no último trimestre pesquisado, o índice continua sendo o pior da região. Ainda segundo o IBGE, a renda média do trabalhador caiu em três estados brasileiros, sendo a do Rio de Janeiro a pior. O rendimento médio fluminense caiu 11,9%, ficando em R$ 2.888,00, enquanto o Amazonas registrou queda de 6,3% e o Paraná, de 5,1%. A inflação oficial de 9,36%, acumulada nos últimos 12 meses, diminui ainda mais o poder de compra do consumidor fluminense.

Os levantamentos realizados pelo SindilojasRio e pelo CDLRio também corroboram a percepção de que ainda demora uma mudança significativa da conjuntura atual, apesar do otimismo demonstrado, com a expectativa de contratação de um número maior de trabalhadores temporários e o aumento das vendas no Natal.

De acordo com Aldo Gonçalves, presidente das duas entidades, o comércio do Rio de Janeiro precisa, neste momento, de maior atenção do poder público, no que se refere a condições favoráveis ao seu funcionamento e, também, ao seu fortalecimento. Além de responder por ampla fatia da arrecadação tributária, o comércio é uma das maiores forças econômicas do Rio de Janeiro, pela sua capacidade de gerar milhares de empregos e renda. Para o dirigente, o Estado precisa investir em ações estratégicas e efetivas de combate à violência e em políticas públicas para o enfrentamento da pobreza, além de, no âmbito econômico, implementar as reformas administrativa e da previdência, tão logo haja definição sobre o novo Regime de Recuperação Fiscal.

– Para vencermos esta crise, anterior à pandemia, é urgente unir os esforços das diferentes esferas do poder público e das entidades representativas da sociedade civil organizada. Neste período de fim de ano, apesar do receio de novas dificuldades, por causa da inflação, do desemprego e do surgimento da nova variante do coronavírus, o comércio do Rio está confiante em bons resultados. Tem esperança que as vendas do Natal ajudem a “salvar” o ano ou, ao menos, a começar 2022 com algum fôlego. Para que isso aconteça, no entanto, é preciso que o consumidor sinta-se e seguro ao ir às compras; é preciso coibir o comércio ilegal nas ruas e o roubo de cargas; é preciso aumentar as ações de assistência social e de ordenamento urbano, destaca o presidente do SindilojasRio e do CDLRio. “Como sempre, o comerciante está fazendo a sua parte, procurando oferecer o melhor atendimento, os melhores produtos, as melhores opções de pagamento aos seus clientes. Mas, como diz o ditado, ‘uma andorinha não faz verão’, conclui ele.

Especialmente para a revista O Lojista, o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo – CNC, Fabio Bentes, faz um balanço da conjuntura atual e aponta algumas projeções para 2022.

Qual é a expectativa geral da CNC para 2022?
FB – O ano que vem será desafiador para a economia. Após uma rápida reação à crise sanitária, vivenciamos um novo período de baixo crescimento econômico. Inflação, juros e desemprego em patamares elevados deverão caracterizar o cenário econômico do próximo ano. Voltamos a projetar o avanço de aproximadamente 1% do PIB (para 2021, projetamos alta de 4,7%). O consumo das famílias também deve crescer menos no próximo ano (+1,2%) do que neste (+4,1%). Apesar da deterioração das condições econômicas, o comércio deve fechar este ano com um crescimento de cerca de 3%. O problema é que os custos do setor têm subido significativamente. Se os preços ao consumidor avançam 11%, para o varejista, a inflação no atacado já ultrapassa os 21%.

Em relação ao Rio de Janeiro, o que esperar para 2022?
FB – O Estado do Rio de Janeiro vem apresentando maiores dificuldades em se recuperar da crise. A deterioração econômica do estado nos últimos anos, com crise fiscal e desemprego mais elevado do que a média nacional, tem feito com que a reação seja mais lenta do que em outras regiões do País. As lojas físicas do varejo têm sofrido com o esvaziamento econômico do Centro da cidade e a desordem urbana em outras regiões. Nos shopping centers, os lojistas sofreram não apenas com a crise sanitária, mas, também, com os custos elevadíssimos de operação, o que acaba provocando uma grande rotatividade de estabelecimentos nesses centros de compras. A última vez que o varejo fluminense registrou crescimento anual de pelo menos 1% foi em 2014. Este ano, projetamos avanço de 1,5% e alta de 0,8% no ano que vem.

Como os entraves e as dificuldades que o comércio enfrenta, particularmente no Rio de Janeiro, podem comprometer projeções futuras?
FB – O desequilíbrio das contas públicas é, sem dúvida, um grande obstáculo ao crescimento da atividade comercial no Brasil e, particularmente, no Rio de Janeiro. O desbalanceamento entre receitas e despesas e o engessamento dos gastos do governo implicam em aumento da carga tributária. E isso afasta investimentos, torna a produção mais onerosa e menos eficiente sem que haja, necessariamente, uma contrapartida em termos de melhoras na qualidade de serviços prestados à sociedade.

Vivenciamos, neste momento, um embate político envolvendo o rompimento do teto de gastos pelo governo central e, há anos, acompanhamos com preocupação a situação fiscal do Estado do Rio de Janeiro. Em 2017, o estado aderiu ao primeiro Regime de Recuperação Fiscal, que o ajudou a atravessar a maior crise econômica de sua história. Naquela ocasião, os salários dos servidores chegaram a atrasar por vários meses. O problema não foi equacionado e, recentemente, o governo do Estado apresentou novo regime com um período de 30 anos para o pagamento do débito com a União que já totaliza R$172 bilhões. Em contrapartida, o estado teria que realizar as reformas administrativa e a da previdência. Esse novo plano está sendo avaliado pelo Ministério da Economia e há a expectativa de um posicionamento do governo federal ainda
neste ano.