Comércio do Rio aposta em dias melhores, mas, para isso, é preciso unir esforços para solucionar os problemas que atingem o setor.
No Rio de Janeiro, o comércio exerce impacto significativo na economia e no desenvolvimento social da capital e do estado, abrangendo uma grande variedade de segmentos e atividades e contribuindo para melhorar a qualidade de vida da população por meio da geração de empregos e renda, e dos impostos e taxas que paga, pois são esses recursos, essenciais, que o governo utiliza em áreas como saúde, educação, infraestrutura e segurança pública.
Nesse contexto, o Sindicato dos Lojistas do Comércio do Município do Rio de Janeiro -SindilojasRio e o Clube de Diretores Lojistas do Rio de Janeiro – CDLRio atuam continuamente na defesa das empresas lojistas, por meio do diálogo constante com o poder público e trabalhando em parceria com outras importantes organizações representativas do setor em busca de soluções para os problemas que afetam o comércio, principalmente o de rua.
Para o presidente do SindilojasRio e do CDLRio, Aldo Gonçalves (foto), para reverter o cenário ainda adverso para o comércio, depois da pandemia que aprofundou a crise financeira que já atinge a capital e o estado há anos, o momento exige que empresas e poder público se unam em torno do mesmo objetivo: a recuperação econômica do Rio de Janeiro.
“Hoje, grande parte dos lojistas do Rio luta contra sucessivos revezes, enfrentando dificuldades para manter os seus negócios. Para superar essas adversidades, o apoio efetivo do poder público ao comércio é fundamental. Tanto para coibir a violência e a desordem urbana que afastam os consumidores, como para criar um ambiente favorável aos negócios, por meio da redução da pesada carga tributária e oferecendo incentivos que deem fôlego às empresas e estimulem novos investimentos e empreendimentos, por prazo suficiente que permita a recuperação do setor”, destaca Gonçalves.
Em relação às expectativas para 2023, ele disse que os lojistas, ainda que moderadamente, apostam em resultados melhores no segundo semestre, mas lembra que isso dependerá de muitos fatores, como a queda da inflação e da inadimplência das famílias, a redução dos juros e de outros já citados, como o combate à violência e à desordem e a diminuição dos impostos.
Para traçar um breve panorama da atual conjuntura e das expectativas do comércio para o segundo semestre deste ano, a revista O Lojista entrevistou Guilherme Mercês, diretor de Economia e Inovação da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo – CNC, que avaliou dados recentes da economia do Rio.
Como o senhor avalia o desempenho do comércio do Rio de Janeiro nos primeiros meses de 2023, em comparação com o do ano passado?
Guilherme Mercês – O volume de vendas do comércio do Rio de Janeiro vem se recuperando de uma queda sofrida no 2º semestre de 2022. Segundo dados da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) do IBGE, mesmo com o bom desempenho de janeiro, depois de um resultado ruim na Black Friday e no Natal, o primeiro trimestre de 2023 registrou um volume 1,4% menor que o mesmo período do último ano. No resultado de março, a comparação anual se mostrou estável, diferentemente dos dois meses anteriores que se mostraram negativos.
Quais foram os fatores que contribuíram para este resultado?
GM – O primeiro trimestre é o mais difícil para o varejo em geral, passadas as festas de fim de ano, momento sazonal mais importante para as vendas. O desempenho abaixo do esperado das vendas fluminenses está relacionado ao alto endividamento dos consumidores. Mesmo com um bom desempenho do mercado de trabalho e uma inflação decrescente no primeiro trimestre, o endividamento freia o consumo das famílias. Segundo os dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), o Rio de Janeiro tem 89,7% da sua população endividada, ocupando o 4º lugar no ranking dos estados mais endividados do país. A pesquisa ainda revela que as famílias do Rio de Janeiro comprometem aproximadamente 30% da sua renda mensal apenas para o pagamento de dívidas, que juntamente com as despesas fixas não deixa espaço para o consumo da população.
Em relação ao segundo semestre, com datas comemorativas importantes para o varejo, como Dia dos Pais, Dia das Crianças, Black Friday e Natal, quais são as expectativas para o comércio do Rio?
GM – Considerando o saldo positivo de contratações de funcionários com carteira assinada no primeiro trimestre, uma inflação estadual cada vez menor e uma possível queda na taxa básica de juros, o cenário é positivo para a recuperação do varejo. A Intenção de Consumo das Famílias (ICF) de maio mostra que os consumidores fluminenses pretendem intensificar as compras nos próximos meses. Não só isso. Esse resultado é maior que o do mesmo período do ano anterior, evidenciando uma percepção de condições de consumo melhor. A CNC projeta que o comércio no Rio de Janeiro encerre 2023 com crescimento de 0,7% no volume de vendas.
Considerando os resultados dos primeiros meses deste ano e as perspectivas para o segundo semestre, o senhor acredita que o comércio do Rio de Janeiro está se recuperando e poderá voltar a crescer de forma sustentável?
GM – Mesmo o resultado do primeiro trimestre estando abaixo do mesmo período de 2022, as variações mensais mostram uma tendência de recuperação do setor. Os fatores condicionantes do consumo, como inflação e o mercado de trabalho, têm se mostrado mais favoráveis ao crescimento do comércio de forma linear e sustentável.
Em sua opinião, hoje, quais são os principais obstáculos ao crescimento do comércio do Rio? O senhor acredita que é possível superá-los no curto ou no médio prazo? Como?
GM – O grande desafio para o varejo ainda é a renda dos consumidores. Com o acesso ao crédito dificultado pela alta taxa de juros e, em conjunto, a alta inadimplência, a população fluminense fica restrita ao consumo de itens essenciais, principalmente do segmento de hiper e supermercados. Programas de injeção de renda como moedas sociais e incentivo para o pagamento de dívidas podem dar um fôlego ao consumidor no médio prazo e incentivar o consumo em outros segmentos do comércio.