O comércio desempenha um papel importantíssimo em qualquer sistema econômico: ele faz a ponte entre a produção e o consumo, construindo uma ligação entre desejos. Ao intermediar essa relação, emprega fatores físicos e humanos, mobiliza recursos e investimentos, aproveitando oportunidades nos mais diversos mercados, sejam próximos ou remotos.
Assim, distribui bens aos consumidores finais, comprando a produção da agropecuária e das indústrias para suprir necessidades locais, num contexto de disputa entre as empresas por um maior espaço no orçamento dos consumidores.
Nesse panorama de possibilidades de vendas, existem componentes determinantes para o sucesso da ação do comerciante. Um deles refere-se ao nível de desemprego, variável fundamental para constituir a renda que circula na economia e que será destinada à aquisição dos bens e que atinge diretamente o resultado do comércio.
Preços, gostos, preferências, qualidade dos produtos, necessidades das famílias, disponibilidade e acesso ao crédito e o patamar de juros seriam outros componentes que influenciam a demanda, bem como a capacidade do comerciante conseguir exercer sua função social, obtendo ganhos necessários para manter seu estabelecimento e vir a ser remunerado pela atividade de intermediação.
Na conjuntura recessiva, o comércio sofre para desenvolver-se e permanecer em funcionamento ativo. Isso ocorre porque ele se localiza na ponta final do processo produtivo devido à capilaridade.
Não importando a causa da situação, nesses períodos as vendas esfriam porque normalmente o desemprego aumenta; e, por consequência, a renda circulante diminui, apresentando-se ao comerciante através da queda das vendas e de pressões para a baixa de preços, como forma de tornar a oferta de bens mais atraente aos consumidores. Muitas vezes isso não é possível; há prejuízo e muitas empresas encerram suas portas.
Devido à sua posição na cadeia da distribuição da oferta de bens, num primeiro momento o comércio é o mais prejudicado pelo desaquecimento do mercado por ser bastante sensível às oscilações conjunturais e às condições orçamentárias das pessoas.
Em momentos de queda da atividade econômica seguida de desemprego, as famílias sentem-se ameaçadas, inseguras e afetadas pelo quadro, tornando-se mais criteriosas, adiando compras e restringindo o padrão de consumo – fatos que reduzem a qualidade de vida delas.
Observa-se que o aumento do desemprego é, então, fatal. Sem renda, não há consumo; os efeitos do processo de queda das vendas comerciais tendem a reproduzir-se pelos outros setores; e verifica-se a diminuição das encomendas do comércio à agropecuária e indústrias. O ciclo torna-se vicioso e os efeitos sobre a sociedade, perniciosos.
Essas pinturas são diferentes do que acontece no quadro de expansão econômica, quando o volume de emprego cresce; e na esteira da dinâmica conjuntural favorável, a renda aumenta e as pessoas passam a gastar mais. Naturalmente, isso corresponde ao melhor dos mundos, períodos que geram prosperidade ao comércio, devido à evolução da procura por bens e da riqueza.
Em linha, os demais setores crescem também porque o comércio realiza mais encomendas para atender aos anseios do mercado, visto que cabe mais produtos nos orçamentos domésticos e a economia encontra-se aquecida.
Diante dos cenários negativo e positivo, o CDLRio e o SindilojasRio manifestam-se esperando o crescimento sustentado da economia. Portanto, defendem que a gestão das finanças públicas se dê sob o princípio da responsabilidade fiscal, em primeiro lugar. Nesse prisma, as entidades acreditam que seja possível pensar no crescimento a taxas compatíveis com as necessidades do país a longo prazo.
Por Aldo Gonçalves, presidente do CDLRio e do SindilojasRio.
Publicado no jornal Monitor Mercantil em 10 de agosto de 2023.