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Os impactos dos juros altos sobre o consumo e o comércio

Dependendo da ótica, a atividade econômica está ativada, para não dizer que está aquecida. O PIB no primeiro trimestre deste ano subiu 2,5% em relação ao mesmo período do ano passado. Em 12 meses, a taxa encontra-se nesse mesmo patamar. As previsões do mercado para o fechamento de 2024 indicam que possa ficar em 2,1%, podendo surpreender como aconteceu no ano passado (2,9%).

O consumo das famílias no primeiro trimestre cresceu 4,4% sobre igual período de 2023, demonstrando intensidade para gastos, pressupondo disposição e melhores condições de vida. Os gastos das famílias atingiram R$ 1,761 trilhão, algo equivalente a 64,9% do PIB total. As vendas do comércio varejista aumentaram 0,9% em abril em relação a março, correspondendo à quarta alta consecutiva no ano; acumulado de 4,9% no quadrimestre e de 2,7% nos últimos 12 meses.

Esses são alguns sinais de que o consumo parece se revigorar, compatível com a movimentação no mercado de trabalho. Até abril, a economia nacional criou 1,7 milhão de novos empregos, um aumento de 3,8% no acumulado de 12 meses. No corrente ano, até o quarto mês, a soma de empregos foi de mais de 958 mil novas vagas, resultando em uma alta de 2,1% no estoque de mão de obra.

Nesse contexto, a inflação segue com expectativas de ficar na meta – abaixo de 4%. Hoje, o mercado financeiro estima que o IPCA acabe em 3,98% até o final do ano. Na última reunião do Copom, a Selic permaneceu em 10,5%, interrompendo o ciclo de cortes e apontando para a cautela da autoridade com relação ao desempenho da política monetária e ao atingimento da meta inflacionária.

De janeiro de 2022 até maio deste ano, a taxa de juros média anual das operações de crédito atingiu o pico em maio do ano passado, com 32,2%, caindo para 27,8% devido aos cortes da Selic. Já a Selic, em 13,75% de agosto de 2022 a junho de 2023, passou por quedas sucessivas a partir de agosto do ano passado, influenciando as demais taxas de juros.

Por outro lado, o cartão de crédito continua sendo o vilão do endividamento, podendo alcançar 80% das famílias até o final deste ano. O endividamento das famílias poderá ficar em 30%, na medida em que parte complementa a renda para consumo através de dívidas.

O Banco Central está atento aos movimentos de preços para que a inflação bata a meta e não aconteçam surpresas, mesmo que muitas expectativas contribuam para que os modelos de previsão fiquem sensíveis quanto aos números finais. O problema são os gastos do setor público e as repercussões na economia.

Publicado no Monitor Mercantil em 10/07/2024.