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O efeito das apostas esportivas no Varejo brasileiro

As apostas esportivas têm se tornado cada vez mais populares em muitas partes do mundo, proporcionando uma forma de entretenimento e, para alguns, uma oportunidade de ganhar dinheiro. No entanto, o impacto social dessas atividades, especialmente nas pessoas de menor poder aquisitivo, é um tema de preocupação crescente. Quando os recursos financeiros que poderiam ser destinados ao consumo são direcionados para as apostas, isso pode ter consequências significativas no nível individual e na economia local, especialmente no setor de varejo.

Segundo pesquisas amplamente divulgadas pela imprensa, o movimento das apostas esportivas no Brasil atinge mais de R$ 100 bilhões por ano, o que corresponde a 10% do faturamento de todos os supermercados do país, incluindo todos os formatos, que, segundo a ABRAS, atingiu R$ 1 trilhão em 2023. O valor médio por aposta em 2023 foi de R$ 263, o que corresponde a 20% do salário mínimo do Brasil.

Para se ter ideia dos valores envolvidos, basta observar os grandes patrocinadores dos times de futebol, principalmente da Série A, dos programas esportivos dos principais meios de comunicação e da mídia em geral.

A seguir, demonstro o resultado do estudo “O Efeito das Apostas Esportivas no Varejo Brasileiro”, realizado pela SBVC (Sociedade Brasileira de Varejo de Consumo), em parceria com a AGP Pesquisa, em junho de 2024.

O estudo é bastante longo, mas procurei tirar alguns recortes que julguei mais importantes para este artigo:

Introdução:

Segundo a pesquisa da Comscore, desde 2019 houve um crescimento de 281% no tempo de consumo dos jogos no país. As apostas têm experimentado um crescimento igualmente rápido: em 2022, o Brasil ficou em 10º lugar globalmente, com US$ 1,5 bilhão em receitas brutas de jogos, segundo dados da Entain, uma das maiores empresas de apostas esportivas online do Reino Unido.

Nova regulação:

Lei nº 14.790: Todas as empresas e apostadores praticantes da atividade terão que recolher os tributos devidos no Brasil. A legislação determina que os recursos arrecadados serão voltados para áreas como educação, saúde e segurança pública. Essa regulação vem para mudar a forma de funcionamento de um dos mercados que mais crescem no Brasil. Com 42,5 milhões de consumidores, o Brasil é o terceiro país do mundo em consumo de apostas. Os dados são da Comscore, uma empresa dos Estados Unidos especializada em análise de dados da internet.

Metodologia da pesquisa:

  • Pesquisa Quantitativa: Painel online com abrangência nacional, com foco em pessoas que já fizeram apostas esportivas online;
  • Amostra: 1.337 respondentes, sendo 508 apostadores e 829 não apostadores;
  • Coleta de dados: De 22 de abril a 3 de maio de 2024.

Principais Destaques da Pesquisa:

a) 66% afirmaram estar cientes das políticas de impostos aplicadas às plataformas, enquanto 24% estão mais ou menos cientes dessas políticas.
b) 63% dos que apostam online no Brasil afirmaram que tiveram parte da sua renda comprometida com as apostas.
c) 84% dos residentes da região Centro-Oeste afirmaram que tiveram parte da sua renda comprometida com as apostas online, sendo que 20% afirmaram que sempre se prejudicam ao utilizar a renda principal em apostas.
d) Produtos deixados de comprar para apostar: 23% deixaram de comprar roupas, 19% deixaram de fazer compras em supermercados, 14% deixaram de comprar produtos de higiene e beleza, e 11% deixaram de comprar cuidados com saúde e medicamentos.
e) Quanto menor a idade, maior a probabilidade de deixar de comprar algo necessário para apostar. 28% possuem entre 18 e 24 anos, enquanto apenas 5% dos respondentes entre 55 e 64 anos deixaram de comprar algo.
f) Gênero dos respondentes: 52% mulheres e 48% homens.
g) Classe social dos apostadores: A: 1%, B: 17%, C: 45%, D/E: 36%.
h) Frequência de participação em apostas esportivas: 13% diariamente, 38% semanalmente, 16% mensalmente, 21% eventualmente e 12% raramente.
i) Apostas em 2024: 49% afirmaram ter aumentado a quantidade de apostas neste ano de 2024, enquanto 35% afirmaram ter diminuído em comparação ao ano anterior.
j) Modalidade que concentra suas apostas: Futebol: 77%, Cassino (Jogos de slots): 50%, Cassino ao vivo (cartas, pôquer, blackjack): 25%, Basquete (NBA, NBB ou Euroleague): 21%, Vôlei: 20%, Outros: 2%.
k) Fatores que influenciam a decisão de fazer apostas: Atletas ou times favoritos (53%), análise estatística (52%), palpites de amigos (44%), hobbie (32%), notícias sobre lesões de jogadores (29%), influenciadores de apostas esportivas (25%), outros (1%).
l) Canais de comunicação usados para se atualizar sobre notícias e eventos: Redes sociais (71%), sites de notícias esportivas (62%), TV aberta (36%), e-mails patrocinados das plataformas (26%), outros (1%).
m) Utiliza sua renda principal para apostas: Sim (64%), Não (36%).
n) Já se prejudicou por usar a renda principal em apostas: Sim (63%), Não (37%).

Para compreender melhor essa questão, é importante analisar como as pessoas de menor poder aquisitivo lidam com suas finanças e como as apostas esportivas podem afetar essa dinâmica. Muitas dessas pessoas já enfrentam desafios financeiros diários, lutando para equilibrar suas despesas básicas com sua renda limitada. Quando parte desses recursos é desviada para as apostas, o dinheiro que poderia ser utilizado para comprar bens de consumo necessários é comprometido, o que está levando a uma diminuição no volume de vendas no varejo.

O impacto direto nas vendas no varejo decorre do fato de que as pessoas estão gastando seu dinheiro em apostas esportivas, em vez de adquirir produtos e serviços que impulsionam a economia local. Isso pode ser especialmente notado em comunidades onde a renda per capita já é baixa e onde as pequenas empresas dependem do consumo local para prosperar. Quando uma parcela significativa da população desvia seus recursos para as apostas, os varejistas são os primeiros a sentir os efeitos desse comportamento, resultando em uma redução nas vendas e, consequentemente, impactando negativamente o crescimento econômico.

Além disso, o impacto social das apostas esportivas em indivíduos de menor poder aquisitivo vai além das questões econômicas. O vício em jogos de azar pode levar a problemas graves de saúde mental e financeira, agravando ainda mais a situação das pessoas que já estão em desvantagem econômica. A falta de acesso a recursos de apoio e a educação sobre o jogo responsável pode aumentar os riscos associados às apostas, criando um ciclo de endividamento e dependência difícil de ser quebrado.

Diante desse cenário, é fundamental que sejam implementadas medidas para mitigar o impacto negativo das apostas esportivas nas pessoas de menor poder aquisitivo e no varejo local. Isso inclui a promoção de programas de educação financeira e conscientização sobre os riscos do jogo, a disponibilização de recursos de apoio para aqueles que lutam contra o vício em jogos de azar e a regulação mais rigorosa do setor de apostas para proteger os indivíduos vulneráveis.

Em última análise, é essencial que a sociedade como um todo esteja atenta ao impacto social das apostas esportivas, especialmente quando se trata das comunidades mais vulneráveis. A conscientização, a educação e a ação coletiva são fundamentais para garantir que as pessoas de menor poder aquisitivo sejam protegidas dos efeitos negativos dessas atividades e que o setor de varejo possa continuar a prosperar e servir como um motor econômico nas comunidades locais.

Existem diversas medidas que os governos podem adotar para minimizar os impactos sociais das apostas esportivas, especialmente nas pessoas de menor poder aquisitivo. Algumas dessas medidas incluem:

  1. Regulamentação do setor: Implementar regulamentações mais rígidas para controlar e supervisionar as atividades de jogo, garantindo que as empresas e operadores sigam práticas responsáveis e éticas.
  2. Educação e conscientização: Campanhas educativas sobre os riscos associados às apostas esportivas e a importância do jogo responsável podem ajudar a informar a população, especialmente os de menor poder aquisitivo, sobre os potenciais impactos negativos do jogo compulsivo.
  3. Restrições de publicidade: Limitar a publicidade de casas de apostas e sites de apostas esportivas, especialmente em horários e locais onde há maior risco de exposição a indivíduos vulneráveis, pode ajudar a reduzir a promoção excessiva do jogo.
  4. Acesso a apoio e tratamento: Garantir que existam recursos e serviços de apoio disponíveis para aqueles que lutam contra o vício em jogos de azar é fundamental. Os governos podem investir em programas de tratamento e suporte para ajudar os indivíduos a lidar com problemas relacionados ao jogo compulsivo.
  5. Monitoramento e pesquisa: Realizar estudos e análises regulares para avaliar o impacto social e econômico das apostas esportivas na comunidade e usar essas informações para orientar políticas e intervenções eficazes.
  6. Tributação: A imposição de impostos sobre as receitas geradas pelas apostas esportivas pode gerar recursos adicionais que podem ser direcionados para programas de prevenção do jogo compulsivo e para o suporte de indivíduos afetados por esse problema.

Ao adotar uma abordagem abrangente que combine regulamentação, educação, restrições de publicidade, acesso a tratamento, monitoramento e tributação, os governos podem contribuir significativamente para mitigar os impactos negativos das apostas esportivas na sociedade, protegendo os mais vulneráveis e promovendo um ambiente de jogo seguro e responsável.