Escrever sobre a economia em 2024 sem o fechamento de 2023 e os principais indicadores é tarefa difícil e arriscada porque ainda não houve a consolidação dos números deste ano nem mesmo os do último trimestre, período de forte consumo, por causa do Dia das Crianças, da Black Friday e do Natal, e que também inclui os efeitos do 13º salário na economia e eventuais destinações: consumo, pagamento de dívidas e poupança.
Acerca da performance da economia brasileira no presente exercício, tem-se a elevação esperada pelo mercado de 2,89%. Para 2024, o crescimento do produto interno cai à metade, cerca de 1,5%. O que não é bom, pois se esse crescimento se confirmar, a geração de empregos será bem menor no ano que vem. Com base nos dados até o momento, a criação de postos de trabalho pode chegar a 1,5 milhão, graças ao crescimento econômico perto de 3,0% em 2023.
Boa parte das previsões de 1,5% do PIB em 2024 deve-se ainda aos efeitos da política monetária a serem medidos no 1º semestre, devido aos juros altos, apesar de cortes sucessivos na Selic poderem acontecer.
A taxa Selic está em 12,25% e, no ano que vem, pode cair até 9,25%. Como os efeitos dessa política são mais demorados, estima-se que os juros ficarão elevados para o consumidor final. A taxa média de juros das diversas modalidades de crédito para as pessoas físicas encontra-se no patamar de 35,97%. Para pessoas jurídicas, a taxa média situa-se em 19,70%. Risco, inadimplência, garantias e spread bancário justificam essa tremenda diferença no tratamento da oferta diante da demanda de crédito por parte dos agentes financeiros.
Diante do baixo crescimento esperado para 2024, tem-se o comportamento do câmbio. De positivo para o mercado, o aumento do dólar não deverá se constituir preocupação. Isso porque se a cotação está em R$ 5,00, para 2024 acredita-se que possa chegar a R$ 5,05, o que significaria alta de 1% apenas. Esse é um dado que contribui para que a inflação também não seja problema. Se a inflação estimada para este ano é de 4,63%, para 2024 é bem menor, na casa de 3,90%, dentro do intervalo e próxima ao centro da meta da autoridade monetária. Em adição, é outro indicativo favorável para as famílias na medida em que poderão ser menos impactadas pelo desempenho dos preços, tendo maior poder de compra para irem ao consumo ou sanearem orçamentos repletos de dívidas.
Nosso comércio exterior deve evoluir menos, considerando que se espera que o mundo cresça abaixo deste ano. Assim, se agora o saldo comercial poderá ficar acima de US$ 75 bilhões, para o ano que vem poderá ser de US$ 62 bilhões, menor 17,3%, correspondente a US$ 12 bilhões de perdas. Provavelmente isso ocorrerá muito mais devido à queda das vendas ao estrangeiro do que pelo incremento das importações.
O eixo do problema da economia brasileira chama-se gastos do governo, finanças públicas e o seu comportamento. Os déficits são financiados pela poupança doméstica, o que representa menor investimento no final, taxa de juros alta e menor crescimento econômico, além de potencializar pressões sobre a inflação, trazendo incertezas ao mercado. A situação das finanças públicas será o grande desafio para o país crescer sustentadamente e de forma perene. Neste aspecto, a reforma tributária poderá contribuir para aumentar receitas, assim como a vindoura reforma do imposto de renda. Não obstante, ainda é cedo para medir ou fazer projeções, considerando que muita coisa está por acontecer.