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Uma nova ameaça ao varejo

Imagine um ponto comercial percebendo o afastamento do cliente porque parte do consumo canaliza-se para outros mercados. O que está por trás da mudança é a ameaça produzida pela disseminação das apostas online, aplicativos e sites de “bets”, que estão caindo cada vez mais no gosto de parte da sociedade. O crescimento desse mercado começa a dar evidências de que irá prejudicar outros setores, como o comércio varejista.

Estima-se, no mercado global, incluindo o Brasil, que o segmento de apostas online movimentou mais de US$ 66 bilhões em 2023. As “bets” incitam interesse porque as possibilidades de ganhos chamam atenção: retornos rápidos para pouco dinheiro investido. Isso mexe com o comportamento humano e pode trazer problemas. Além da dependência e do vício, um dos efeitos é que o varejo já sente na pele a escolha dos consumidores pelas apostas.

Em vez de comprar bens nas lojas, um número crescente de pessoas está optando por arriscar dinheiro nas plataformas de apostas, o que torna as “bets” concorrentes do varejo e de outras atividades. Acredita-se que, há cinco anos, esses gastos representavam 0,27% do orçamento familiar. Hoje, participam com 1,38%, cinco vezes mais, resultado do aumento da preferência por esses jogos.

Os estímulos e facilidades ajudam a explicar o crescimento desse mercado. As probabilidades de recompensas mexem com o imaginário. Muitas apostas estão vinculadas ao futebol, que corresponde a uma paixão nacional, e podem ser feitas nos celulares, 24 horas por dia, sete dias por semana.

Um ponto de atenção está no fato de que a renúncia ao consumo em favor das apostas pode afetar as condições de vida, caso o processo resulte em maior endividamento pessoal ou familiar. Assim, o comércio e setores produtivos sofreriam mais perdas.

Estrategicamente, ignorar essa tendência seria um erro determinante para a atividade empresarial. Sendo assim, muitas empresas começam a associar seus produtos às “bets”, visando oportunizar suas marcas nesse ambiente virtual em desenvolvimento.

O comerciante, que sempre buscou saídas para ultrapassar obstáculos, tem mais esse desafio. Um dos caminhos apontados por estudiosos do setor – com o qual concordamos – é inovar, incorporando novos métodos de atendimento aos clientes, buscando enfatizar o momento memorável no estabelecimento comercial e a experiência da compra, além de oferecer benefícios de fidelização, promoções criativas e conexões pós-venda.

Por Aldo Gonçalves, presidente do CDLRio e do SindilojasRio.

Publicado na revista O LOJISTA, edição de setembro/outubro de 2024.